segunda-feira, 18 de junho de 2012

maranata - Eu dei minha vida, meu tempo, a minha alma, o meu amor por essa igreja e o que eu recebi em troca? Discriminação, preconceito e desprezo.

Querido CV,

Meu nome é Eurípia Inês e quero agradecer por esse artigo “Discriminação e preconceito”. Ele e os comentários falam exatamente aquilo que vivi por quase 20 anos na maranata.

Esses comentários acima se referem a mim. Vários irmãos vieram me perguntar se era eu e se eu tinha realmente passado por tamanhos sofrimentos.

Esse comentário do esparadrapo por exemplo, foi muito doído pela frieza com que esse casal me tratou. Eu fiquei sem chão pensando: Que Deus é esse que dá seu único Filho por amor de nós e depois me nega um pedaço de esparadrapo estando eu em apuros, longe de casa. Ainda,(tiro de misericórdia) disseram que eu “deveria ter previsto que ia perder parte do parafuso”.

Eu tive paralisia infantil que me deixou sequelas irreversíveis. Fiz muitas cirurgias, fisioterapia e usei muletas e botas ortopédicas por muitos anos. Hoje sou mais charmosa usando uma linda bengala.

Eu era muito dedicada. Trabalhei como professora de adolescentes, intérprete de LIBRAS, trabalhei na cantina do maanaim por muitos anos, minha casa eu abri para trabalho durante 3 anos, limpava o chão, lavava o banheiro, enfim, eu fazia todos os serviços e não me escorava na minha deficiência para ficar ociosa na igreja. Eu dei minha vida, meu tempo, a minha alma, o meu amor por essa igreja e o que eu recebi em troca? Discriminação, preconceito e desprezo.

Eu já li a Palavra toda várias vezes e o que mais me consumia de angústia era não entender o quanto a igreja estava longe do Evangelho de Jesus e mais ainda no que diz respeito à pessoas com deficiência. Jesus SEMPRE se compadecia delas e as curava mas na maranata não,o que ela fazia era colocar tropeços para dificultar nossa locomoção e inclusão.

Só para exemplificar, o pastor trocou o piso da entrada da igreja. Era uma calçada lisa que podíamos andar sem problemas e ele colocou lajotas entremeadas com grama. Isso foi péssimo para mim, um irmão hemiplégico e duas idosas cadeirantes. Eu pedi para ele não fazer aquilo eu chorei e ele foi grosso comigo e não me ouviu. Um dia na madrugada eu caí e me machuquei e as irmãs de cadeira eram carregadas por dois obreiros.

O banheiro nesta época foi todo reformado e com dinheiro nosso. Eu fiz um polpuda doação. Eu pedi para esse mesmo pastor colocar uma porta mais larga para os cadeirantes terem acesso mas ele gritou comigo parecia um leão feroz.

Teve um casamento em que a irmã do noivo era cadeirante e como todos os familiares ficam nos primeiros bancos nestas ocasiões, eu sugerir que se colocasse um banco menor na frente para caber a cadeira dessa irmã, mas o pastor virou um leão feroz. Eu chorei muito com esses fatos.

Mas a minha preocupação maior era com os deficientes que não suportaram esses desrespeitos e foram embora como um jovem que depois de ir à igreja algumas vezes e encontrar o banheiro (nesta unidade local tinha banheiro adaptado) cheio de latas de tintas, rodos e vassouras. Fizeram depósito do banheiro.

Eu tive que esperar muito tempo para sair da Maranata porque foram muitos acontecimentos como estes que me deixaram magoada e triste. Eu não queria sair sentindo isso pelos pastores e irmãos.

Também quero deixar claro que sempre os procurava para explicar a necessidade dos deficientes mas eles me tratavam como louca, revoltada, complexada e com predisposição a me sentir discriminada. São fatos revoltantes de causar indignação em qualquer pessoa mas não naqueles líderes.

Certa vez em uma grande evangelização em que o PES veio aqui em Brasília, eu fui mais cedo para o local para ajudar a organizar. Eu estacionei meu carro numa vaga especial para deficientes (e eu tenho a autorização do DETRAN). Veio um obreiro cheio de autoridade e “orientação do sinhô” me mandando tirar o meu carro. Eu disse que não iria tirar porque estava na vaga especial ele então estufou o peito e disse que aquelas vagas eram para as autoridades. Eu falei: Mas são as autoridades quem fizeram as leis reservando vagas para deficientes. Ele queria que eu desse a chave para ele tirar meu carro. Ninguém me defendia e só me acusava de rebelde, difícil, problemática…

Eu NUNCA pensei que fosse em uma igreja chamada Cristã, que eu receberia o pior tratamento com relação à minha deficiência. Eu trabalho, frequento diversos locais públicos e os responsáveis se esforçam para que tenhamos pleno acesso, ao contrário da Maranata.

Irmãos, tenho muito ainda a falar sobre outros fatos que por longos anos que feriram, trouxeram muito sofrimento e até prejuízo não só a mim mas a outras pessoas com deficiência. Relatarei nos próximos comentários.

A paz do Senhor Jesus.

Eurípia Inês.

fonte: http://cavaleiroveloz.com.br/index.php/2012/06/discriminacao-e-preconceitos

4 comentários:

  1. As vagas especias na Maranata são para pastores e convidados ilustres como deputados, senadores enfim todo e qualquer tipo de liderança.
    Quanto mais leio sobre essa igreja mais sinto alegria por ter saído de lá.

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  2. [...] maranata – Eu dei minha vida, meu tempo, a minha alma, o meu amor por essa igreja e o que eu receb... [...]

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